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Tribo dos Malês

qui, 11/12/2014 - 10:05 -- Juliana Carvalho
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Arquivo pessoal de Marilene Ibraim
Tribo dos Malês

Em 1835, acontecia em Salvador, um movimento que ficou conhecido como a Revolta dos Malês, em que um grupo de negros islâmicos lutava contra a discriminação racial e religiosa. Décadas mais tarde, a história dessa luta serviria de inspiração para o nome de um novo movimento que nascia em Macaé, a Tribo dos Malês.

Criado em 2009, o Movimento Negro Tribo dos Malês nasceu quase que por acaso. Inicialmente, a ideia era dar continuidade a um evento promovido no Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) em que, para comemorar o Dia da Consciência Negra, era realizado um desfile com negros na sede do sindicato. Nascia, assim, o primeiro trabalho realizado pelo movimento: o concurso da mais bela negra de Macaé. A presidente e fundadora, Marilene Ibraim, revela que a Tribo dos Malês nasceu com o objetivo de contribuir para o resgate da autoestima dos negros e moradores de comunidades carentes. “No início, éramos eu, minha filha Carla Ibraim e um grupo de amigos. Nós tínhamos o desejo de fazer algo que fosse além do discurso, algo que, efetivamente, mostrasse a importância de um trabalho social voltado para os negros da nossa cidade”, afirma Marilene, acrescentando que a sugestão do nome do movimento foi dada pelo seu sobrinho historiador, Ralph Luís Ibraim.

projeto se toca tribo dos malêsCom o tempo, o leque de atuação da instituição foi aumentando. Atualmente, os trabalhos sociais se dividem em diferentes áreas, fazendo com que inúmeras pessoas possam ser beneficiadas nos projetos: “Mulheres Solidárias” (apoio a deficientes físicos); “Ai que frio!” (arrecadação de agasalhos); “Fome não tem cor” (festa de Natal realizada a cada ano em uma comunidade, com almoço e distribuição de presentes) e o mais recém-criado, “Mulheres em luta”, que consiste no apoio a mulheres com câncer de mama.

Este último teve como ponto de partida a vivência pessoal de Marilene, que perdeu cinco pessoas de sua família vítimas de câncer. Uma delas foi sua irmã Maeli, que lutou nove anos contra um câncer de mama. Emocionada, Marilene relembra que foi em uma das visitas à irmã, no Hospital Álvaro Alvim, em Campos dos Goytacazes, que conheceu Celina, uma mulher que também sofria de câncer e que havia sido abandonada pela família. “O encontro com Celina me fez perceber o quanto há mulheres necessitadas, não só financeiramente, como também emocionalmente. Celina foi a primeira beneficiada, antes mesmo do projeto existir. Conseguimos tudo o que ela precisava para voltar para casa, incluindo uma acompanhante. Nesse momento, percebi que este primeiro caso podia ser formatado em um projeto para ajudar tantas outras ‘Celinas’ que existem por aí”.

Atualmente, cerca de 50 mulheres são assistidas pelo projeto. Com a ajuda de parceiros e recursos arrecadados com os eventos realizados pela Tribo dos Malês, como o “Boteco da Marilene”, mais de 250 mulheres foram atendidas com o banco de prótese, em que é possível retirar um sutiã especial feito para mulheres que precisaram retirar a mama. O “Mulheres em Luta” também atua com doação de perucas, faixas e tecidos para a cabeça.

Um diferencial do projeto é o acompanhamento realizado durante o tratamento, segundo Marilene, uma das etapas em que as pacientes ficam mais vulneráveis. “Contamos com o apoio de voluntários que se disponibilizam a acompanhar essas mulheres nas idas ao hospital para realização dos procedimentos. “É um envolvimento muito grande, mas a satisfação também vem na mesma proporção. Quando a gente se dispõe a ajudar a quem precisa, a gente reconhece o nosso verdadeiro papel nesse mundo. Convivemos com muitas histórias que nos tocam porque, além do problema de saúde, há o problema social, mas é preciso buscar forças e seguir em frente”, revela Marilene, que concilia as atividades do movimento com a vida profissional como vendedora de roupas e bijuterias.

sandra wyatt com marilene ibrainOutro foco realizado pelo “Mulheres em Luta” está na conscientização, já que a chance de cura do câncer de mama chega a 95%, se descoberto precocemente. “É preciso se tocar. A mulher precisa saber a importância de conhecer o seu corpo, de cuidar dele, de realizar o autoexame periodicamente. Há inúmeras questões que ainda precisam ser revistas pelo poder público quando o assunto é realização de exames e tratamento, no entanto, é necessário  que as pessoas priorizem sua saúde, seu bem-estar e a sua vida. Infelizmente, convivemos com muitas perdas, vidas que se vão e que poderiam ter sido salvas se tivessem descoberto o câncer desde o começo”, ressalta.

A Tribo dos Malês tem como padrinho o empresário Vandré Guimarães e como madrinha do projeto Mulheres em Luta, a terapeuta e fonoaudióloga Sandra Oliva Wyatt, além de contar com o apoio de entidades como a Maçonaria Macaense, Lions Clube e Tênis Clube, classificado por Marilene como “quartel general” da Tribo, já que o local abriga reuniões e a realização de eventos como o desfile do concurso A Mais Bela Negra de Macaé. O Movimento não aceita doações em dinheiro, mas as contribuições podem ser feitas com voluntariado e itens que auxiliem nas realizações do trabalho. No momento, entre as prioridades, estão: conseguir um motorista para realizar as viagens com os pacientes em tratamento e o combustível para o carro que realiza esse transporte. Quem se interessar em ajudar, pode entrar em contato pelo telefone (22) 99956-4574.

“Acredito que, em pouco tempo, estaremos alcançando nosso objetivo de irmos além do discurso de vítimas do preconceito. Estamos atuando em diferentes frentes, mostrando que é possível vencer inúmeras barreiras e fazer algo melhor para nossa sociedade”, finaliza Marilene.

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