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Maria Klonowska deixa seu legado

sex, 30/05/2014 - 17:36 -- Luciene Rangel
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maria klonowska

A artista plástica Maria Klonowska que viveu muitas décadas em Macaé, faleceu dia 29 de maio. Ela deixa um belo legado artístico e muitas saudades em toda a comunidade macaense. Como forma de homenagear Maria Klonowska, o Grupo Divercidades publica na íntegra a matéria que foi realizada pela jornalista Luciene Rangel na edição de Dia das Mães da Revista DiverCidades de 2012. Nessa edição, um pouco da história de vida de Maria Klonowska foi contada.

MARIA KLONOWSKA: a arte me escolheu

Olhos azuis, mãos ágeis, dedos longos. No rosto as marcas do tempo revelam o quanto é intensa, prática, talentosa e orgulhosa da família que construiu ao lado do seu Tadeusv. MARIA KLONOWSKA tinha tudo para ter uma vida normal como a de milhares de brasileiros que nascem em cidade do interior, família simples e com muitos irmãos. Mas a arte fez dela um ícone. Sua obra é apreciada, desejada e valorizada por expressar o que ela é, o que sente e o modo como vê as coisas.

Mãe dedicada, esposa companheira, artista plástica de primeira qualidade, Maria Klonowska tem sempre por perto um exemplar do muito que já produziu ao longo de seus quase 90 anos (ela completa nove décadas em 20 de julho). Telas, inicialmente pintadas à tinta óleo e agora em acrílico e tapeçarias mostram a intensidade de quem vê arte em tudo.

maria klonowskaO trabalho é construído de maneira natural, espontânea e reveladora. Cor, proporção, formas... O resultado, sempre surpreendente, desperta no apreciador curiosidade de como se mostra infinita a manifestação de talento em uma única pessoa: Maria Klonowska.

Quem conhece sua arte não fica indiferente. E ela afirma que sempre pintou do mesmo jeito, desde as primeiras pinceladas ainda menina, influenciada por seu pai, italiano, muito habilidoso com cobre, ferro e pincéis, e de quem escolheu o nome para homenagear seu primogênito: Vicente.

Diferente do pai, que sempre gostou de pintar animais, Maria Klonowska se encontra mais nas formas humanas, nas manifestações festivas em que há aglomeração de pessoas.

- Tenho muito do meu pai, mas sempre preferi pintar pessoas. Com três ou quatro pinceladas pinto um rosto. Mas quando detalho um, o nariz é a parte mais difícil.

O ano de seu nascimento parece que foi escolhido: 1922, ano da Semana da Arte Moderna, movimento que representou verdadeira renovação da linguagem e da liberdade criadora. De Natividade de Carangola, no estado do Rio de Janeiro, para o mundo, a arte de Maria Klonowska há muito ultrapassou os limites territoriais brasileiros, estando na França, Japão, Canadá, Estados Unidos, Itália e Dinamarca. E perguntada sobre novos trabalhos ela é enfática: tenho muitos ainda a fazer.

As mãos e a mente inquieta da artista atualmente trabalham em telas, dando forma e sentimento a uma Via Sacra, encomendada por um cliente antigo. Outros trabalhos de cunho religioso estão expostos em Macaé nas igrejas de São João Batista, São Pedro e Santana e a artista ainda conta com obras sacras em templos de Itaperuna e Natividade.

maria klonowskaA tapeçaria entrou na vida da artista em 1978 pelas mãos de Casimiro, um velho amigo de seu marido e de quem veio a inspiração para o nome do filho caçula.

- Tinha sofrido acidente de carro e estava impossibilitada de andar, com as duas pernas imobilizadas. Foi quando Casimiro, que na época morava no Canadá, mandou uma caixa com lãs de toda cor e um tear. A primeira peça que ganhou nova forma com as lãs foi a banqueta em que eu apoiava os pés. Depois disso não parei mais.

E as formas em tapeçaria são lindas, intensas. O detalhe é que cada peça vai sendo construída espontaneamente, meio que sem planejamento prévio. No máximo uma coisa ou outra é riscada, mas ela nunca sabe como o trabalho vai terminar.

- Começo minhas tapeçarias sempre pelo meio e vou preenchendo ao redor. Gosto de natureza, suas cores... formas. Perfeição pra mim é coisa muito séria. Por isso não tenho problema em desmanchar -, diz ela exigente com seu trabalho.

A família

Há 30 anos viúva, Maria Klonowska fala do marido com boas recordações. “Ele foi um grande incentivador. Muitas vezes terminava um trabalho achando que não estava bom e ele chegava com elogios de como a obra estava bonita”, recorda ela.

Ficaram juntos 32 anos. Uma história de luta, companheirismo e muitas experiências compartilhadas nos vários pelos lugares por onde andaram desde que deixaram Professor Souza, onde se conheceram. Entre conhecer, namorar e casar foram quatro meses. O projeto de viver juntos uma experiência no Canadá fez com que as coisas fossem aceleradas.

Imigrante polonês, vindo para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial, Tadeusv era engenheiro florestal e tinha um convite para reflorestar o Canadá. Mas quis o destino que permanecessem no Brasil, onde constituíram família com o nascimento de Vicente que, atualmente reside em Florianópolis, e Casimiro, que mora no Rio.

De Professor Souza até chegar à Macaé foi extensa a caminhada. Diante da impossibilidade de exercer a profissão de engenheiro florestal por falta de mercado, Tadeusv e a família percorreram cidades do interior fluminense atuando na área do magistério. Numa dessas experiências, residiram em Itaperuna, onde Maria Klonowska recebeu do amigo da família Álvaro Wernerk, o convite para lecionar no interior de Macaé. Dalí ao Colégio Estadual Luiz Reid, foi um pulo e mesmo com a resistência dos colegas por ser novata e ter substituído outra professora, foi ocupando seu espaço com competência e talento.

- No início foram muitas as dificuldades de relacionamentos, mas aqueles que a princípio tinham reservas à minha pessoa transformaram-se em grandes amigos. Tenho boas recordações...

E a vida foi seguindo, entre magistério, atelier, família, amigos e apreciadores de sua arte. O trabalho foi uma constante em sua vida, assim como a dedicação à família, escolhas que fizeram de Maria Klonowska uma mulher caseira, de poucas atividades extra lar.

Cinco netos e muitas histórias povoam a memória da artista. E ela revela que a educação dada aos filhos e compartilhada com os netos tem a mesma base, de que “a vida é uma estrada. Tem barro, ponte, pedra, sendo preciso saber passar por ela”, ensina.

A arte

maria klonowskaAs manhãs são preenchidas pela pintura. As tardes é a vez da tapeçaria. Mas entre uma coisa e outra, aprecia a música e a leitura, essa mais com o propósito de pesquisa.

Em toda a sua vida, em que a arte teve lugar de destaque ao lado da família, Maria Klonowska visitou várias modalidades de manifestações artísticas. Deu forma a metais, barro, tecidos. Nunca comprou uma roupa de cama. Fez todas.

Em sua casa, além das telas e tapeçarias, portas, enfeites e lustres têm seu toque. É dela a ideia de usar um escorredor de massa como luminária de cozinha e uma bacia recortada com moldes de flores como lustre da copa. A arte é latente em Maria Klonowska. E foi através dela que viveu grandes histórias e boas amizades. Aos 90 anos, cheia de projetos e de vida, Maria Klonowska afirma: “Eu sem arte morro”.

Dedicando-se á pintura da Via Sacra, ela já tem uma tapeçaria para a sequência. E assim Maria Klonowska vai presenteando-nos com seu talento, tornando tudo mais colorido e interessante.

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