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O tempo da mudança

qui, 28/09/2023 - 11:10 -- Divercidades
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Créditos: 
Arte web

Faz algum tempo, precisei me mudar de casa. Quanto trabalho faz uma mudança. Remexer em tudo aquilo que já está organizado, acomodado nos armários que muitas vezes nunca mexemos. Aquelas louças que nunca usamos, as roupas que já não nos servem mais, gavetas com cheiro de mofo. Outras, as gavetas da bagunça, com tudo aquilo que vamos acumulando sem quê nem pra que. E os livros. Ah, os livros! Essa é pra mim a melhor e a pior parte. Os livros são minha paixão. Neles me perco. E me acho. Tenho para mim que eles são o maior bem que eu acumulo. Ao encaixotar minha modesta biblioteca revisitei lembranças. Fotos perdidas usadas como marcadores de páginas com trechos sublinhados. Passados. Memórias. Cartas, bilhetes, anotações, canções, amores. Histórias que ultrapassavam, e muito, as letras impressas e os enredos tecidos pelos autores. Nesse desengavetar passados para encaixotar futuros, mudar vai demarcando dois tempos. Das gavetas e estantes para as caixas. Das caixas para o novo que se anuncia. Mudar é abrir espaços, brechas para se surpreender com o novo.Há mudanças que a vida nos impõe pelo simples fato de estarmos vivos. O tempo é implacável. Deixa suas marcas, suas fissuras. Altera a paisagem. A mudança e o tempo andam sempre de mãos dadas. Estamos ali, seguindo os dias, no marasmo das horas, no correr dos anos, na enganosa sensação de uma rotina inalterável, e de repente nos deparamos com o espelho. E lá estão as rugas do tempo. Olhamos para o lado e lá estão os bebês das fotos, crescidos, autônomos. Andamos pela cidade e não mais existe aquela padaria. A casa antiga de pé direito alto na esquina deu lugar a um prédio... Poetas e filósofos concordam que tudo muda o tempo todo no mundo. Tudo passa. Tudo sempre passará. O tempo passa e coloca a vida em movimento. Transforma, modifica e nós, mutantes, sem perceber, alteramos nossas cores como camaleões. Freud, como os poetas, num dos mais belos e inspiradores textos de sua obra, fala sobre a transitoriedade que é o destino de tudo e de todos, inclusive da vida. E é justamente essa tal efemeridade que torna a vida mais encantadora, surpreendente e valiosa. “Valor de transitoriedade é valor de raridade no tempo.”
Mas há um outro tipo de mudança, que está para além de certas imposições da vida e do tempo. Uma mudança para além da estética ou do endereço. Uma mudança bem mais radical. Mudança de posição, de olhar, que altera as estruturas, abala os alicerces e abre novos horizontes. Aquela que nos exige romper com as armadilhas que nós mesmos construímos para nos aprisionar. Aquela que nos confronta com a dimensão mais profunda da nossa existência.
O belo dia em que se resolve mudar e fazer tudo o que se quer, como diz a canção da maravilhosa Rita Lee, não chega nesse de repente. Esse belo dia é marcado por uma decisão, por um corte, um rompimento com tudo aquilo que não nos cabe mais. Decisão gestada, maturada, que ficou de molho qual roupa quarando no sol pra tirar as manchas. Decisão que exige coragem para se revolucionar e se reinventar. É o tempo da mudança. Entre o instante de ver e o momento de decidir, um tempo para compreender, para preparar. Essa mudança é libertadora. E não há uma regra que seja válida para todos, cada um precisa encontrar a sua liberdade para ser quem se é, com suas falhas e tropeços, suas rugas e rachaduras.O trabalho de análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que devemos evitar”, como diz Freud. A análise nos prepara para mudar, nos ensina a nos reinventar. Ela não vai nos curar dos nossos sintomas, mas vai nos permitir encará-los de frente, reconhecê-los, enxergá-los com outros olhos. A análise nos possibilita, principalmente saber/fazer com eles. E é aí, nesse saber/fazer com nossos sintomas, que nos tornamos mais livres.
A escritora Martha Medeiros vai dizer que a fonte da juventude se chama mudança. Eu diria que a mudança, subjetiva, é a chave para a liberdade. Se a mudança e o tempo andam de mãos dadas, é ela quem vai trazer as tintas de cores vivas para colorir sua passagem. É na mudança que o novo vem e que o tempo se desacelera na evolução, revolução, reinvenção...
Mudar é trocar a roupa da alma, mantendo a sua essência, é reacender o olhar sagaz e vivo, colocando brilho na opacidade da vida. Toda mudança tem um preço emocional. Exige trabalho não só para enfrentar, mas para sustentar o novo. Exige coragem para mudar o rumo, a rota, para abrir mão das ilusórias garantias da estabilidade. Paga-se um preço muito mais alto por se manter inalterável, inflexível, estagnado nos simples hábitos.
Então, se pergunte, se interrogue, sobre o que te inquieta, te chacoalha, te faz desejar enxergar além dos muros que te aprisionam e ir além desses simples hábitos. Se liberte. Mude. Dance.
MU-DANÇA!

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